Cristina
Strapação

Nascida em 1959, no bairro de Santa felicidade, em Curitiba, PR, filha de descendentes de italianos que chegaram ao Brasil em 1890, agricultores e feirantes, que sempre trabalharam com produção e venda de alimentos. Tendo vivido a sua infância e adolescência num ambiente de colônia, quase rural e em contato com a natureza.

Seu interesse pelo desenho remonta ao fascínio pelo colorido da natureza que a cercava, como as nuvens que passeavam no céu azul que observava quando deitada na grama, os ninhos dos pássaros que encontrava nas árvores e nos nichos de folhagens, as borboletas coloridas que perseguia tentando aprisionar, a argila colhida no riacho para confeccionar pequenos brinquedos, além do fascínio pelas flores do jardim e a horta de sua mãe. Era um universo colorido e misterioso que oferecia muitos elementos a serem explorados e reproduzidos, inicialmente com lápis grafite e carvão de fogão de lenha e mais tarde, quando começou a ir à escola, com as seis cores de sua primeira caixa de lápis de cor. Mais tarde, este universo infantil volta à tona, servindo como referência e temática dos seus trabalhos de desenho e pintura. Na infância, se expressa, usando os poucos materiais dos quais dispunha e com o quais pintava-desenhava até nas paredes, quando adulta retorna ao grafite e o lápis de cor e passa a explorar novas técnicas como pastel, tinta acrílica, óleo, além de trabalhar em algumas fases com cerâmica e vitral e usar a fotografia como ferramenta de trabalho para o desenho e a pintura.

Tanto na infância quanto na adolescência eram-lhe prazerosas as tarefas escolares que envolviam desenho e pintura, mas isso sempre passou despercebido pelos pais e professores, assim esta atividade, se tornou apenas um passatempo, uma brincadeira durante muitos anos.

Na juventude, participando da Pastoral de Juventude da Arquidiocese de Curitiba, que reunia jovens, com o objetivo de conscientizar em relação aos problemas da juventude e ainda no período da ditadura militar, passou, através das discussões sobre problemas sociais, econômicos e políticos, a se interessar de forma muito séria por essas questões. Por idealismo, escolheu como profissão Serviço Social e atuou durante o período de faculdade, como estagiária, através do Departamento de Desenvolvimento Social, em favelas e comunidades da periferia de Curitiba.

Casou-se no último ano da faculdade, com Pedro, geógrafo, que viveu sua vida inteira no Rio de Janeiro. Escolheram morar em Curitiba e formaram uma família com três filhos, o que a levou a optar a não trabalhar fora, para cuidar deles, até crescerem e se tornarem mais independentes. Enquanto este tempo se passava, para se distrair, com uma atividade diferente que não fosse apenas as tarefas de cuidar de crianças e de uma casa, passou a “brincar” com o seu antigo passatempo, o desenho. Freqüentou, quando dispunha de algum tempo, alguns cursos livres e oficinas de desenho e pintura ministrados por artistas paranaenses, como Danilo Lorusso, Daniel Freire, Dalva Lobo, Hélcio Croseta e Luís Carlos de Andrade Lima, os quais lhe colocaram em contato com várias técnicas de desenho e pintura, mas apaixonou pela tinta óleo, pela sua maleabilidade, luminosidade e transparência. Neste período experimentou diferentes técnicas; grafite, lápis de cor, pastel, acrílico e óleo e alguns estilos, mas todos dentro do figurativismo.

Na sua primeira exposição individual, em 1991, Na Casa Culpi, Memorial da Migração Italiana, ligada a Fundação Cultura de Curitiba, organizada e incentivada pelo professor de pintura Hélcio Croseta, explorou a temática das paisagens e antigos casarios italianos do seu bairro e as naturezas mortas, que tinham como modelo as frutas colhidas nos quintais de sua casa e das casas dos familiares e amigos; figos, uvas, caquis, laranjas, maracujás e objetos de sua cozinha, unindo o prazer de pintar com o prazer de cozinhar. A partir desse momento sentiu que o seu passatempo momentâneo estava se tornando cada vez sério, principalmente porque essa exposição foi bem recebida, inclusive com a venda de alguns trabalhos.

Recebeu uma proposta da direção da Casa Culpi para dar aulas de desenho e pintura, o que a fez mergulhar no estudo de teorias e técnicas em artes plásticas; lendo, freqüentando bibliotecas, adquirindo livros e revistas de arte, visitando museus e galerias, instituições de arte de sua cidade e em todos os lugares por onde passava em passeios e viagens. Começa um caminho sem volta à sua antiga profissão, o Serviço Social. Mas isso não quis dizer que a sua preocupação com a questão social, política e ambiental houvesse terminado, elas sempre estiveram presentes, inclusive foram temas de uma série de pinturas e exposições.

Os estudos e viagens lhe permitem entrar em contato com a pintura dos pintores holandeses do século XVII, e as técnicas e materiais usados por eles foram uma espécie de fascínio dentro da sua investigação, principalmente os detalhes pintados com precisão fotográfica e a maneira de se pintar em finas camadas com pincéis macios que não deixam marcas. Por falta de professores interessados neste estilo e técnica começou a trilhar o caminho dessa aprendizagem sozinha, fazendo experimentos até aperfeiçoar uma técnica e um estilo próprio, que a levou ao caminho do realismo fotográfico, indo contra a corrente do Experimentalismo e do Conceitualismo que marcavam as artes visuais naquele momento.

No ano de 1999, vive em Barcelona, Espanha, com os três filhos e o marido, em razão dos estudos de doutorado dele, o que a põe em contato com a corrente do realismo catalão e espanhol. Isso lhe dá impulso para seguir com mais segurança o estilo abraçado. Este período foi importante para sua auto-afirmação e amadurecimento de seu trabalho, sendo um ponto que a separa de um trabalho, até o momento amador, e o início de uma carreira mais profissional. Este período, na Espanha, foi importante também, para explorar outras áreas artísticas, como o trabalho de pintura em vidros e confecção de vitrais e restauração de pintura, além da oportunidade de visitar muitos museus e exposições, que lhe somaram muitos outros conhecimentos.

Nos anos, entre 2000 e 2004, passou por uma fase explorando o realismo fantástico, estilo que lhe dava a oportunidade de sonhar, transgredir a realidade e expandir a sua criatividade. Neste ponto, no ano de 2003, mudou-se com a família para a cidade de João Pessoa, em razão da procura, por parte de seu marido, de um lugar para viver que fosse mais tranqüilo e próximo do mar, assim deixaram Curitiba, foram morar primeiramente no bairro do Cabo Branco e depois na Ponta do Seixas (Ponto Extremo Oriental das Américas). Depois de uma grande dificuldade em adaptar-se a uma nova vida, numa cidade com clima, alimentação, cultura e costumes diferentes, além de saudades de sua terra, suas raízes, familiares e amigos, se deixa, aos poucos, nas caminhadas diárias a beira mar, conquistar pela paisagem marinha, fazendo desse mar seu refúgio e inspiração.

Nas suas caminhadas no final da tarde, observa as luzes, a formação das nuvens e seus reflexos nas águas e espumas do mar, ora azul, ora verde tingidos de várias cores do por do sol, que transformam a natureza em protagonista de um filme que se apresenta todos os dias de uma forma diferente, tendo como coadjuvantes as jangadas, barcos artesanais e os pescadores e suas redes. A visão deste cenário penetra, através dos seus olhos, na sua mente e as sensações do vento e dos pés na areia penetram na sua alma. Com essa experiência vivida diariamente, o mar penetra na sua vida e na sua pintura e aos poucos os tons de verdes, azuis e as espumas brancas vão tomando conta de suas telas, até que se tornam tema principal do seu trabalho, de forma limpa e clara, chegando próxima do hiperrealismo.

Paralelamente às pesquisas, viagens e exposições, ministra cursos e oficinas de desenho e pintura, repassando aos alunos o conhecimento adquirido e dá palestras e aulas de arte falando sobre sua técnica, suas pesquisas, e sua vivência como artista em seus os vários aspectos, com os prazeres e dificuldades da profissão.

Neste período, entre os anos de2003 e 2009, faz exposições individuais e participa de muitas coletivas em João Pessoa, Natal e Curitiba.

Entre 2009 e 2010 vive em Le Mans, na França, onde tem a oportunidade de levar o mar paraibano para dentro de uma sala de exposição de uma instituição francesa; o público fica fascinado pela beleza das paisagens marinhas e pela técnica empregada.

Em 2013 faz outra exposição na Europa, em Málaga, na Espanha.

Em 2014, 2015 e 2016 continua explorando tudo o que o mar lhe proporciona em cores e formas e costuma dizer que este “oferece inspiração para pintar durante, se possível fosse, duas, três ou mais vidas, pois em uma vida não há tempo suficiente para pintar tanta beleza.”.